Jornal UNI-BH

Tuesday, October 18, 2005

A mulher por ela mesma

Júnia Leticia

Feiticeiras* a parte, a mulher tem comprovado sua eficiência peran-te as sociedades brasileira e mundial. Prova disto foi a indicação, em fevereiro de 2001, da juíza gaúcha Ellen Gracie Northfleet para ocupar uma vaga no Su-premo Tribunal Federal. Outra mulher de destaque é a escritora fluminense Ro-siska Darcy de Oliveira, que também é jornalista, professora formada pelo Insti-tuto de Educação e diplomada em direito pela PUC/RJ. Exilada durante dez anos na Suíça, por denunciar torturas contra presos políticos, Rosiska de Oliveira cri-ou, durante este período, em Genebra, o primeiro centro de estudos da mulher, atuou no movimento feminista internacional e, em março de 2001, lançou seu livro na Secretaria de Justiça, em Belo Horizonte.

Na obra A dama e o unicórnio (Rocco; 170 páginas), a escritora reúne textos publicados na imprensa brasileira sobre diversos temas, com destaque pa-ra a situação das mulheres ao longo do século XX. Conquistas, como a desco-berta da pílula anticoncepcional, o direito ao voto e a falta de autonomia para decidir questões relacionadas a seu próprio corpo (como o aborto, por exemplo), são enfocados no livro. De maneira interessante e envolvente, a autora discorre sobre assuntos que envolvem os direitos da mulher na sociedade.

Em O testamento de Adão, texto que integra sua obra, a escritora faz alusão ao "direito nato" dos homens de dominar o mundo. Questionando este fato, diz: "Afinal, em que cláusula do testamento de Adão - porque Eva aparen-temente, não possuía bens, nem sequer morais - ficou escrito que caberia aos homens, e sobretudo aos religiosos, escrever a história das mulheres, balizan-do-as com interditos, proibições, (...), em suma, tudo que tem sido argüido con-tra elas cada vez que se aproximam do território proibido do seu próprio corpo."

A velha Amélia, que ERA mulher de verdade, deve, sim, ser substitu-ída definitivamente por Emília, a travessa boneca criada pelo escritor Monteiro Lobato. A divina marquesa, "(...) compreendeu melhor que ninguém sua pouca importância e, inconformada com ela, e tendo a seu favor somente a inteligên-cia, casou-se por interesse com um porco, bem porcão, mas que ostentava o título de marquês (...). Uma vez feita marquesa, pediu imediatamente o divórcio, guardando, é claro, o título nobiliárquico. Interesseira? Sim, mas não mais que a Dama das Camélias ou Marguerite d'Autriche. Emília, marquesa de Rabicó, seguiu o caminho do poder pelo casamento que tantas mulheres tentaram, antes que o feminismo lhes abrisse portas mais dignas e instaurasse a moderníssima discussão sobre as mulheres e o poder." Hoje as mulheres não tem de recorrer ao casamento ou a seus atributos físicos para ser reconhecida como ser humano. Sua capacidade já é notória e, apesar de lento, o progresso é certo e indiscutível. Feiticeiras*, portanto, estão fora de moda.

* Feiticeira: Dança da Feiticeira e A captura da Feiticeira são quadros do programa SuperPositivo, da Rede Band de televisão. Protagonizados por Joana Prado, eles chamam a atenção do público para os atributos físicos da envolvida. O termo está no plural por abranger outras mulheres que vivem a mesma situação da personagem.

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