Jornal UNI-BH

Thursday, September 29, 2005

Profissionais da comunicação discutem as várias nuanças do Jornalismo

Júnia Leticia

A discussão em torno da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão já vem sendo discutida há algum tempo. O debate foi acirrado quando a juíza Carla Rister, da 16a Vara Cível de São Paulo, suspendeu a necessidade do diploma para registro profissional em todo o país. Entre os quatro anos que compreendem a graduação e a dispensa da freqüência a uma instituição superior de ensino, a imprensa passa por um momento de repensar o seu papel na sociedade.

Formação e valorização profissional do jornalista


Discutir a valorização profissional do jornalista é uma tarefa que envolve vários atores, como explica o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Aloísio Lopes. Segundo ele, é necessário que o jornalista se valorize: “Para isso, o profissional tem de ter um comportamento de defesa da sua profissão. As pessoas, para não passarem fome, trabalham por qualquer coisa. Temos que buscar caminhos para isso não acontecer. Não tenho a fórmula. Essa é uma reflexão em conjunto que vamos fazer na categoria e na sociedade.”

Aloísio Lopes ressalta, ainda, que vivemos em uma sociedade em que a informação é vital. “As dimensões políticas e culturais da informação são muito grandes para a sociedade contemporânea. O jornalista é quem dá razão pública aos fatos e acontecimentos, é ele quem interpreta a realidade para o leitor, para o telespectador e para o ouvinte. Então, há de ser ter uma grande responsabilidade social e uma postura ética, o que tem a ver com a qualidade da informação e, portanto, com a formação que o jornalista recebe, tanto na academia quanto no mercado de trabalho”, avalia.

Liberdade e responsabilidade da mídia

O papel da imprensa e da mídia, principalmente, no que tange a formação ética do cidadão, é polêmico e suscinta discussões. Para a Articuladora do curso de Jornalismo do UNI-BH, professora Adélia Barroso Fernandes, a liberdade da mídia e de expressão não podem desvincular-se da responsabilidade ética com o cidadão: “É fundamental a criação de produtos com qualidade cultural, com maior ênfase para a questão da cidadania e dos direitos humanos.”

Como aliado para a melhoria da qualidade da programação, a professora enfatizou a criação do Comitê Mineiro pela Democratização da Mídia. Segundo ela, o comitê pretende participar, junto ao Congresso Nacional, como se fosse um órgão observador dos produtos mediáticos: “A função do Comitê é fazer uma crítica positiva, não no sentido de censurar. O que se pretende é que esses produtos passem por uma revisão, por uma análise, mesmo que seja pós-apresentação. O que não pode acontecer é a mídia ficar totalmente solta.” Adélia Barroso reforçou que atualmente as emissoras de televisão podem apresentar o que quiserem, no horário que desejarem, sem nenhum órgão que regulamente do que é veiculado.

O baixo nível na programação televisiva hoje é atribuído, pela professora, à constante preocupação dos produtores apenas com a audiência, que pode ser revertida anúncios publicitários: “O retorno econômico acontece a curto prazo, mas a longo prazo há perdas. Com o passar do tempo, a emissora fica desacreditada por apresentar apenas produtos ruins, apelativos ou sensacionalistas.”

Riscos à saúde nas redações e assessorias

Um dos casos verificados pelo Médico do Trabalho, Dr. Guilherme Câmara, refere-se à auto-agressão. Segundo ele, o fato pode ser verificado pelo uso de drogas e abuso do álcool: “A síndrome da fadiga crônica, a depressão e as neuroses são apenas alguns dos problemas relacionados com o trabalho. Trata-se do adoecimento crônico, que acompanha o paciente ao longo de sua vida profissional, caso ele não se sensibilize do problema e tente criar condições para que possa desenvolver seu trabalho de forma saudável.” A falta de tempo para o lazer, a sobrecarga de trabalho e o cansaço determinam o prejuízo à saúde.

Outro fator que influencia o adoecimento dos profissionais de comunicação, sobretudo jornalistas, é a padronização do espaço de trabalho, que envolve o mobiliário: “Com certeza, haverá aqueles que não se encaixam naquele modelo que foi adotado. Essa questão da homogeneização é muito complicada e as organizações sempre buscam isso.”

Ética nas eleições

O estabelecimento de uma postura ética é condição fundamental a cobertura jornalística de processos eleitorais. Sobre o assunto, o jornalista Luís Carlos Bernardes explica que não se pode misturar militância com cobertura política: “Os principais problemas que têm acontecido nas eleições brasileiras envolvem os veículos. Que eu me lembre, às vezes o jornalista está envolvido, mas por uma orientação do veículo, como no debate Lula e Collor em 1989, em que dois jornalistas fizeram a edição, por orientação da emissora.”

Após cobrir várias eleições, Luís Carlos Bernardes observa que a mídia segue as mesmas regras do jogo que outros aliados de campanha, como empreiteiros e bancos: apóiam e depois recebem os benefícios em obras, contratos ou publicidade: “Já me disseram – não tenho provas, por isso não vou citar o nome – que um grande jornal mineiro tem um contrato publicitário de 300 mil reais com um candidato.”

Uma das soluções propostas pelo jornalista é o exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, onde os grandes jornais dizem nos editoriais qual a sua preferência partidária: “Eles tentam fazer uma cobertura isenta, mas dizem a quem a direção do jornal está apoiando. Em muitos países da Europa – a França é um exemplo –, a mídia é engajada. Sendo assim, o leitor sabe que está comprando um jornal que apóia tal partido. Aqui no Brasil, os apoios camuflados. É claro que o leitor ou espectador com maior senso crítico percebe. Mas em um país no qual, na prática, 40% da população é analfabeta, a percepção é muito mais difícil.”

De acordo com o jornalista, a situação estaria melhor se o Conselho Federal de Comunicação tivesse sido empossado em 92, quando foi regulamentado, e não em 2002. Mas, de qualquer forma, Luís Carlos Bernardes aponta a existência de fóruns legítimos de discussão: “Hoje, há ONGs da mídia que discutem a comunicação com a presença de estudantes, professores, jornalistas, psicólogos e sociólogos. O quadro está mudando a partir da sociedade civil. Acredito que só com a sociedade se mobilizando, participando em conselhos, em associações, discutindo é que a situação pode melhorar. As empresas são muito sensíveis à posição da sociedade, que se reflete, muitas vezes, em uma queda de Ibope, na venda de veículos e na perda de credibilidade.”

O futuro e o papel das assessorias de comunicação


Um dos grandes filões para os jornalistas têm sido as assessorias de comunicação. Há 16 anos trabalhando na área, a Coordenadora da Divisão de Comunicação Social do Ipsemg, Helena do Carmo Barcelos, conta que hoje o mercado de assessoria tem-se expandido: “Na época em que me formei, havia poucas assessorias de imprensa em Belo Horizonte e elas não eram muito profissionalizadas, ficando concentradas em apenas uma pessoa, o assessor de imprensa, que, normalmente, vinha de veículos de comunicação diversos.”

Atualmente, as assessorias se profissionalizaram, tendo uma preocupação maior com a credibilidade, conforme assegura Helena Barcelos. Segundo ela, as redações buscavam retirar informações negativas das instituições em que trabalhavam os assessores de comunicação. “Às vezes, existia uma mistura no mercado, na qual o assessor era o editor do jornal. Acredito que a visão negativa que ainda resta das assessorias de imprensa advém dessa época.”

Hoje, o papel das assessorias foi reformulado: “Não se trabalha mais com a figura do assessor; há uma equipe. O papel das assessorias agora é o de buscar informações, que são um produto a ser consumido. E a disputa de mercado ocorre como para qualquer outra mercadoria. Mas a venda do ‘produto’ tem de ser feita com responsabilidade social.”

Jornalismo ambiental

A cobertura da imprensa tem papel fundamental na formação da consciência ambiental: “Acho que a cobertura tem de se dar também nas questões do dia-a-dia, a fim de gerar um movimento para se cobrar posturas dos órgãos e pessoas competentes.” Essa é a opinião da jornalista Adriana Valério. Para ela, a cobertura que ocorre atualmente fica aquém, porque os veículos muitas vezes não possuem editorias específicas: “O meio ambiente fica separado das demais coberturas. O assunto poderia ser discutido, por exemplo, ao cobrir-se uma matéria de economia, pois não dá para desvincular o meio ambiente das questões econômicas.”

Conforme Adriana Valério, a lacuna da cobertura ambiental é suprida pelos jornais, cadernos e revistas especializados, pelos jornais de bairro, alternativos e de ONGs. “É muito importante destacar, ainda, a importância que os movimentos ambientalistas têm no jornalismo ambiental, porque são eles que vão promover essa cobertura.”
Para finalizar, a jornalista declarou que a discussão do Jornalismo Ambiental tem de fazer parte da própria formação, assim como o Jornalismo Econômico, por exemplo. “O Jornalismo Ambiental é um pouco um jornalismo engajado. Não dá para se pensar em um profissional que atua na área de comunicação, nessa área ambiental, sem acreditar naquilo que está cobrindo.”

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