Jornal UNI-BH

Thursday, September 29, 2005

Ex-aluno da antiga Fafi-BH lança seu terceiro livro

Com Biografias & Biógrafos, o jornalista Sergio Vilas Boas abarca o processo de escrever sobre vidas

Júnia Leticia


Em Biografias & Biógrafos – Jornalismo sobre personagens (Summus Editorial, 2002), o jornalista e professor da Universidade de Uberaba (Uniube) Sergio Vilas Boas estuda o modo de operação de jornalistas-biógrafos. “Trata-se de um ensaio sobre a arte de narrar vidas”, enfatiza. Segundo ele, a biografia tende a transformar-se em uma especialidade, inclusive para jornalistas.

Sergio Vilas Boas decidiu escrever Biografias & Biógrafos após constatar que não havia, em língua portuguesa, nenhuma obra que se dedicasse exclusivamente a abordar como os biógrafos trabalham. “As biografias tornaram-se, definitivamente, um dos gêneros de leitura prediletos no Brasil e no mundo. No entanto, continuavam marginalizadas como fonte para pesquisas”, observa.

Leitor assíduo do gênero, Sergio Vilas Boas verificou que uma única biografia pode conter um conjunto de conhecimentos, não apenas do Jornalismo, mas também da História, da Sociologia, da Psicologia, da Antropologia, da Filosofia, dentre outros. “O fato de ser uma narrativa híbrida por natureza me fascina e impulsiona a visitar autores e idéias de áreas diversas. Acho esse diálogo muito enriquecedor. Cada vez mais jornalistas (brasileiros e estrangeiros) dedicam-se a escrever biografias ou a produzir documentários biográficos audiovisuais para o cinema e para a TV paga. Sinto que novas fontes de trabalho podem ser criadas.”

Para escrever Biografias & Biógrafos, o jornalista baseou-se, principalmente, nas obras Chatô – O Rei do Brasil, Mauá – Empresário do Império e Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha, escritas, respectivamente, pelos jornalistas-biógrafos Fernando Morais, Jorge Caldeira e Ruy Castro. “A biografia é um trabalho autoral. Em meu livro, afirmo que ela é o biografado segundo o biógrafo. Muitas das questões que levanto talvez sequer passaram pela cabeça desses três autores, que trabalharam empiricamente. Mas seus textos demonstram habilidades que vão além do simples fôlego investigativo. Como jornalistas, os três emprestaram e tomaram emprestado métodos diversos, mas coincidentes. Também li e interpretei biografias de autores brasileiros e não-brasileiros escritas por historiadores, psicólogos, filósofos etc. O resultado dessa costura é uma proposta para descobrir e compreender a biografia como arte, que é, claro, condicionada pelos fatos e pelas evidências.”

Essa não é a primeira obra de Sergio Vilas Boas. Em 1996, ele publicou O Estilo Magazine – O texto em revista (Summus Editorial) e, em 1997, Os Estrangeiros do Trem N (Editora Rocco). No momento, o jornalista prepara uma coletânea de 12 perfis de escritores que publicou no caderno semanal "Fim de semana", da Gazeta Mercantil, onde trabalhou durante quatro anos. “O livro tende a chamar-se Perfis – Um Modo de Reportar. Acompanha a coletânea um ensaio meu, situando o tema e o meu trabalho como pesquisador da área de histórias de vida.”

O Estilo Magazine, como conta Sergio Vilas Boas, é uma espécie de workshop sobre texto de revista. “É uma reação ao jornalismo pasteurizado praticado hoje em dia pela maioria dos diários brasileiros Uma revista – semanal ou mensal – permite linguagens mais sofisticadas, um estilo elegante, sedutor. No livro, defendo que as revistas Veja e IstoÉ (ainda não exista a Época) têm de conciliar jornalismo e literatura; e que os jornalistas de revista têm de demonstrar uma técnica apurada e um exercício contínuo de raciocínio e de criatividade.”

Já em Estrangeiros do Trem N, o jornalista relata a vida dos emigrantes brasileiros em Nova Iorque, que recorreram aos Estados Unidos na década de 1980 para fugir do desemprego e da hiperinflação. Para a elaboração da obra, Sergio Vilas Boas fez mais de cem entrevistas com imigrantes brasileiros, entre os anos de 1993 e 1994. “Compus um mosaico de personagens que alimentaram – muitos ainda alimentam – o sonho de enriquecer nos EUA em pouco tempo. Dei esse título porque N é a linha de metrô que liga o bairro de Astoria, em Queens, a Coney Island, no Brooklyn. Esse trem percorre praticamente toda a metade-sul da ilha de Manhattan, e é muito usado por brasileiros.” Com Estrangeiros do Trem N, o jornalista ganhou o Prêmio Jabuti, em 1998, na categoria Reportagem.

O seu fazer jornalístico

“A possibilidade de transitar por culturas, linguagens, estilos e acreditar que jornalismo não é feito só de notícias urgentes.” Isso é o que mais fascina Sergio Vilas Boas como jornalista. A favor do diploma de jornalista, ele defende os profissionais justificando que o Jornalismo não se expressa somente por uma técnica, mas, também, por uma ética própria. “Médicos, biólogos, engenheiros etc podem comunicar-se claramente com públicos heterogêneos. Não tenho nenhum preconceito quanto a isto. Mas que interesses irão defender como funcionários/colaboradores de jornais, revistas, TVs, rádios, websites? Qual a ética, por exemplo, de um engenheiro? É o que tenho me perguntado.”

Na época em que se formou em Jornalismo, Sergio Vilas Boas trabalhava no Núcleo de Comunicação Social de um banco estatal, em Belo Horizonte. Dois meses depois de formado – em setembro de 1993 –, ele decidiu fazer intercâmbio cultural e aperfeiçoar seu inglês em Nova Iorque. “Fui com minha atual esposa, Patricia Braga, que também se formou em Jornalismo, na mesma turma que eu. Prevíamos ficar lá somente três meses, mas ficamos por um ano e meio.”

De lá, por telefone, Sergio Vilas Boas pediu demissão do banco. Passou, então, a dar aulas particulares de Português e a fazer traduções para empresas americanas. No período, conciliava seu trabalho com as pesquisas para a execução do livro Os Estrangeiros do Trem N. “De volta ao Brasil, sem dinheiro e com um volume enorme de informações colhidas para a obra, consegui trabalho como repórter no Diário do Comércio, em Minas Gerais, onde fiquei por mais de quatro anos, os dois últimos como editor.” Em 1996, por uma série de reportagens sobre a crise na sucessão de empresas familiares de Minas, Sergio Vilas Boas recebeu o prêmio Fiat Allis de Jornalismo Econômico. Em 1997, recebeu, da Associação Brasileira de Jornalismo Empresarial (Aberje), o prêmio Profissional de Mídia do Ano pelo trabalho desenvolvido como editor no Diário do Comércio. Assim que Os Estrangeiros do Trem N recebeu o Prêmio Jabuti, em 1998, ele foi convidado para trabalhar no caderno "Fim de semana", da Gazeta Mercantil, em São Paulo. Lá, foi editor-assistente e depois repórter especial. O jornalista também teve uma breve passagem pela Folha de S. Paulo, no caderno "Equilíbrio".

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