Jornal UNI-BH

Tuesday, October 18, 2005

MIC completa seis anos dedicados à popularização da arte

Júnia Leticia

A arte popular está em festa. Em 2001, o Movimento Inter-regional de Cultura (MIC) completa seis anos divulgando a cultura popular. O MIC é formado por um grupo de pessoas ligadas ao universo das artes – músicos, poetas, artistas de circo, dentre outros –, que acreditam que a transformação da sociedade tem de passar pela cultura. De acordo com a coordenadora do MIC, Dirce Kuchler, o que une o movimento e o que faz seus integrantes desenvolverem um trabalho em conjunto é a crença de que, desenvolvendo a área cultural, eles contribuem para que toda a população tenha acesso às expressões artísticas.

Mais do que lazer, o MIC faz com que a população exercite a solidariedade. Segundo relata o músico sergipano Jorge Dissonância – há três anos no Movimento –, a partir do momento em que as pessoas que estão nas ruas percebem que alguém se preocupa com elas, passam a respeitar o próximo. A coordenadora do Movimento destaca o relato de um morador de rua que confirma o que diz o músico. Ela conta que, no último banquete que o MIC ofereceu aos moradores, perguntou a um homem se estava apreciando a festa e ele respondeu: “Está tudo muito bom, mas o que eu estou gostando mais é do carinho”.

Dentre os eventos promovidos pelo Movimento, há a Festa das Mães (que ocorre na véspera do dia das mães), o Banquete dos Mendigos e das Crianças (na véspera do Natal), o Dia da Consciência Negra e o “Tire as mães do asilo” (em que as velhinhas são levadas ao parque para participar de um chá dançante). Aos domingos, os integrantes do MIC se reúnem pela manhã (de 10 às 14h) no Parque Cidade Nova, e à tarde (de 15 às 19h), no Parque Guilherme Lage.

Por não possuir ligação com nenhum órgão, especificamente, o MIC faz parcerias com simpatizantes, que patrocinam as apresentações. A fotógrafa pernambucana (com mestrado em fotografia pela Universidade de Illinois, em Chicago, EUA) Eliane Velozo – que também participa do MIC – ressalta que as oficinas artísticas são realizadas com material doado. “Sempre encontramos parcerias de empresários e até mesmo da Prefeitura. Quando realizamos atividades próximas às regionais, busca-se apoio de som, transporte, palco e outros. Não temos um grande patrocinador, mas acabamos por precisar de muito pouco, já que a maioria do pessoal trabalha voluntariamente.” Mesmo assim, o Movimento carece de recursos financeiros. Dirce Kuchler conta que muitas vezes não conseguem divulgar os eventos por falta de cartazes. E, apesar de atuarem ativamente no cenário cultural de Belo Horizonte, não possuem nem mesmo uma sede.

Impressões sobre o cenário artístico

A arte é tratada no Brasil como uma atividade de loucos, segundo a fotógrafa Eliane Velozo. “Se sou artista, logo, sou louca. E se sou louca, não ligo para dinheiro. A cultura no País é tratada assim: em um momento, somos tratados como loucos, em outro, como delinqüentes, porque freqüentemente transgredimos alguma ordem, para realizar trabalhos na área cultural.”

O cenário artístico, de acordo com a fotógrafa, também é marcado por pessoas que não compreendem o que é cultura. Sendo assim, “é muito mais fácil arrumar 50 mil reais para pagar um grupo de pagode ou de axé para fazer uma intervenção, do que pagar dez músicos a mil reais cada um. Falo de música em razão do volume de dinheiro gasto com a divulgação de determinados conjuntos, que nada acrescentam ao cenário artístico.” Para Eliane Velozo, uma das funções da arte é desenvolver a consciência crítica nas pessoas.

Mesmo com todas as dificuldade encontradas no Brasil, a fotógrafa não pretende voltar a morar no Exterior. “A cultura daqui é riquíssima e acho que o Nordeste, apesar de muito carente, é a área mais cultural do País.”

CDs gravados por meio do MIC:

· Grande viagem de luz – Paulo Mourão
· O giro da roda de fogo – Luiz Marques
· Cavaleiro da lua – Sérgio Villard
· Brinquedo – Triângulo trio
· Euforia natural – Carlos Magno
· Bem H2O – Jorge Dissonância
· Caipe – Jorge Dissonância

0 Comments:

Post a Comment

<< Home