Jornal UNI-BH

Tuesday, October 18, 2005

Idosos e portadores de deficiência conquistam novos espaços

Júnia Leticia

Com o aumento da expectativa de vida, notou-se a carência no mercado de profissionais que atendam às pessoas que entram na terceira idade. No Brasil, 9,1% da população têm mais de 60 anos, de acordo com o Censo 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outra parcela da sociedade, que também necessita de serviços especializados, é formada pelos portadores de deficiência. Representando cerca de 17 milhões de pessoas, atualmente eles têm ganhado mais atenção, graças a alguns profissionais que direcionam suas áreas de atuação para melhor atendê-los.

A decoradora Fernanda Loureiro faz parte destes profissionais. Para isto, ela especializou-se em designer para pessoas da terceira idade e com limitações físicas. A decoradora conta que, nos Estados Unidos, onde fez mestrado há dez anos, a preocupação com esse tipo de público já era constante, fazendo parte dos projetos de escola.

A procura por seus serviços ocorre tanto por parte da pessoa que precisa mudar seu ambiente, quanto por seus parentes. Fernanda conta que, a partir daí, o projeto é adaptado às limitações dos clientes. "Temos de procurar modificar o espaço para facilitar a circulação e melhorar o conforto dentro de casa. Quanto à estética, não nos podemos esquecer de colocar peças bonitas e acessórios que auxiliem no dia-a-dia. Uma pessoa idosa, por exemplo, tem necessidade de maior contraste, porque sua visão está mais comprometida. Se forem colocados o piso, a parede e o rodapé da mesma cor, ela vai ter dificuldade com a noção de profundidade", explica a decoradora.

Em seu trabalho, Fernanda descobre as aptidões de seus clientes. O conceito de deficiência, aliás, é contestado por ela. "A deficiência ocorre caso o ambiente não permita a execução das atividades necessárias para se viver. Se a pessoa possui pouca visão, e chega a um elevador que tem a numeração em braile ou possui uma gravação que diz o número dos andares, não está deficiente. Se usa cadeira de rodas, mas consegue locomover-se graças à instalação de rampas, não encontra empecilhos para chegar aonde quer. O lugar é que proporciona as limitações. Nossa tarefa é transformar as restrições em habilidades", explica.

A preocupação com os projetos de decoração ocorre, inclusive, com pessoas que não possuem limitações físicas. "Atualmente, percebemos que as mudanças de residência ocorrem com menos freqüência, principalmente se a faixa etária é 40 anos. Para isto, é necessário ter certos cuidados, como deixar as portas dos cômodos maiores, prevendo a necessidade de mais espaço para circulação", ressalta Fernanda.

Mas a sociedade já está começando a perceber que há formas de proporcionar a dignidade a que estas pessoas têm direito. O primeiro indício foi a regularização, em 1994, da Norma 9050, da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Este órgão, responsável pela normalização técnica no País, fixou "padrões e critérios que visam a propiciar às pessoas portadoras de deficiências condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma a edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbanos". Fernanda Loureiro afirma que a Norma sinaliza o início de grandes mudanças na sociedade atual.

O Projeto de Lei no 1.070, em tramitação desde 1999, também "dispõe sobre a oferta de condições de acesso e uso adequado aos portadores de deficiência física e idosos, quando da construção de edifícios com capacidade para abrigar mais de cem pessoas". Para o arquiteto Mozart Vidigal, tal medida divulgará a arquitetura de acessibilidade e disponibilizará seu uso pela sociedade em geral.

Trabalhando como voluntário do Ministério Público de Defesa dos Idosos e dos Deficientes, Mozart visita instituições públicas. A pedido da Promotoria de Justiça, o arquiteto verifica a possibilidade de adaptação dos ambientes para melhorar a qualidade de vida.

O arquiteto conta que, com pequenas reformas, é possível efetuar grandes mudanças. A pedido de terapeutas ocupacionais, ele desenvolveu um trabalho para uma senhora, moradora da periferia de Belo Horizonte. Devido a problemas de locomoção, foi feito um guarda-corpo de canos nas paredes, para que ela pudesse, apoiando-se nele, chegar até à porta de sua casa. "A arquitetura de acessibilidade é viável para todas as classes sociais. O custo, assim como o tempo para a conclusão da obra, depende do tipo de projeto a ser executado", conclui Mozart Vidigal.

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