Jornal UNI-BH

Tuesday, October 18, 2005

Correio Sentimental ameniza solidão

Júnia Leticia

Com a chegada da Internet, houve uma revolução na Humanidade. Rapidez e comodidade nas comunicações são alguns exemplos dos benefícios da rede. Até mesmo os relacionamentos pessoais foram revistos. A Web, ao encurtar distâncias, favoreceu os relacionamentos, sobretudo, para pessoas tímidas ou cautelosas. E a violência das grandes cidades está contribuindo para que essa forma de comunicação alcance mais adeptos.

Alheias às vantagens da Internet, entretanto, muitas pessoas recorrem a formas mais antigas de encontrar um(a) namorado(a). O Correio Sentimental, coluna publicada há aproximadamente 20 anos no jornal Diário da Tarde, atende, em média, a 150 pessoas por semana, que procuram amenizar a solidão. É o caso do comerciante Geraldo Pinto. Natural de Corinto, Geraldo já escreveu para a coluna três vezes. Por não sair com freqüência, o comerciante encontra mais dificuldade em conseguir namorada. "Não sou freqüentador de barzinhos, locais de mais fácil aproximação com outras pessoas. Já por meio do Correio Sentimental, muitas pessoas ligam e escrevem para a gente e acaba-se conhecendo alguém", diz o comerciante.

Quanto a amizades, Geraldo não as tem. Ele gostava de sair com amigos, mas conta que desde os 28 anos (atualmente tem 36) desistiu das amizades. "Eu já passei muita coisa ruim por causa de amigos. Inclusive estar em certo lugar e me oferecerem drogas. Agora só saio se for com namorada. Gosto muito de conversar com pessoas de idade, que têm experiência sobre a vida. Mas não tem nada de sistemático da minha parte. E já tive muita gente que concordou comigo, que não vale a pena ter amizade. Só procuro fazer tudo da maneira mais simples."

Quanto aos trotes que ocorrem, ele não tem medo. Indiferente às brincadeiras a que está sujeito, Geraldo Pinto afirma que tem como se desvencilhar de pessoas inescrupulosas. "Uma mulher que ligava para mim dizia ter 18 anos. Quando descobri, tinha 53. Liguei para a polícia e, por meio do número, eles descobriram o telefone dela. Se eu quisesse, os policiais tomariam providências; mas eu não quis. No entanto, encontram-se pessoas sérias. Não acho nada arriscado me relacionar por meio do jornal, já que marco encontros nas proximidades de onde moro. E acho muito importante o Correio Sentimental; afinal, você atende quem quer. Se você não tem interesse, fala que já arranjou outra pessoa. E se não der resultado nenhum, pode escrever de novo. Atualmente, estou falando por telefone com uma menina que quer se encontrar comigo; até mandou foto para mim."

Apesar de sempre participante do Correio Sentimental, Geraldo Pinto não conseguiu ter um relacionamento por meio da coluna. E ele justifica: "Geralmente, ao encontrar a pessoa, descobre-se que ela não é aquilo que se esperava, mas acho que vale a pena porque se fazem boas amizades. Conhecemos muita gente e isso pode acabar dando certo".

Antes de escrever para a coluna, o comerciante namorou durante 8 anos. A esse relacionamento, ele atribui parte de sua desilusão com a vida. "Até 6 anos de namoro, era tudo normal. Depois de algum tempo, descobri que ela estava se encontrado com outra pessoa. Eu ameacei contar à sua família o acontecido. O irmão dela, que era policial, por vingança, arrastou-me para o meio de um matagal, com uma arma apontada para a minha cabeça. Desta época para cá, venho arrumando outras namoradas, mas não tem dado resultado. Às vezes achamos que alguém está gostando de nós e não está nada; quer é aproveitar. Por isso fiquei desconfiado e escrevo para o Correio Sentimental. Às vezes a gente encontra a mesma história. Se alguém procura o Correio Sentimental é porque está carente e pensa como a gente."

Segundo a psicóloga Jacqueline Pitchon, as pessoas recorrem ao Correio Sentimental para se sentirem mais protegidas. “Na verdade, fazem isto porque não querem expor-se”. Ela acrescenta que esse comportamento está relacionado com a forma que a pessoa se sente e com sua personalidade. “Pessoas introvertidas têm mais dificuldade para fazer contato. Escrevendo para a coluna, elas se arriscam de certa forma, mas não se expõem. As pessoas que vão procurá-lo (no caso do Geraldo) gostaram de sua apresentação. Desta maneira, ele se sente mais seguro”, arremata a psicóloga.

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