Jornal UNI-BH

Tuesday, October 18, 2005

Associação quebra preconceitos

Júnia Leticia

Homem não chora! Esta frase, há muito tempo dita e ainda hoje repetida, exemplifica a cultura machista que ainda impera, principalmente em países latinos. No entanto, os homens de hoje querem ser mais atuantes em áreas anteriormente atribuídas às mulheres. Na educação dos filhos, é comum eles recorrerem à Justiça, para que essa convivência seja mais freqüente. E foi para reivindicar este direito que surgiu a associação Pais para sempre.

A associação foi criada no Brasil, em agosto de 2000, a partir de um grupo de debates na Internet. “Os atendimentos, entretanto, começaram em janeiro deste ano, quando foi conseguida uma sede”, informa o fotógrafo Rodrigo Dias, presidente e fundador da Pais para sempre. Segundo diz, a associação já existe em Portugal, na Espanha, na França, na Inglaterra, em Israel e na maioria dos países onde a guarda única (processo em que um dos pais recebe a responsabilidade de continuar educando e criando o filho) é constituída como regra.

Rodrigo Dias destaca que Belo Horizonte é a primeira cidade a ter a Pais para sempre. “Nós esperamos que, rapidamente, possamos abrir associações em todo o País. Mas ela já tem uma característica de âmbito nacional, porque temos um site (www.fotojornalismo.fot.br/conviver.html), com um volume muito grande de informações", esplica.

A associação atende, em média, 20 pessoas por semana. “Como nosso trabalho é voluntário – não temos recepcionista, por exemplo –, prestamos serviços dentro do nosso limite de capacidade”, diz. Ele conta que as pessoas que procuram a entidade vêm em busca de atendimento jurídico, informações sobre o que é a guarda e conforto para amenizar a dor da separação entre pais e filhos.

O fotógrafo critica a forma como é exercida a guarda, que, de acordo com ele, provoca o abandono sentimental dos filhos: “Um pai, que só vê seu filho a cada 20 dias, não consegue manter um vínculo de convivência e de amizade. Com isto, perde o pátrio dever de cumprir com suas responsabilidades, e passa a ser apenas um espectador. Muitos pais, não admitindo esta função, afastam-se dos filhos”.

Com a mudança de comportamentos, Rodrigo chama a atenção para a importância de se dividir responsabilidades. “A sociedade já consegue ver que a mulher participa em todos os aspectos da vida cotidiana. É mais que natural que ela divida suas responsabilidades com o filho. Esta tarefa é uma obrigação do pai também”, analisa.

O presidente da associação analisa o problema, com base em sua própria experiência. “Tenho um filho de cinco anos, chamado Lucas, e não consigo vê-lo com a freqüência que ele gostaria e que eu acho necessário.”

Para facilitar o processo de guarda, a associação criará um núcleo do Instituto Brasileiro de Mediação e Arbitragem do Brasil. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, que difunde pelo Brasil a importância do processo de mediação, antes que chegue à Justiça.

Há duas formas de participar da associação: uma como sócio, que quer participar do assunto sobre guarda compartilhada, e outra como voluntário. Como voluntário, será treinado para ter conhecimento a respeito do que é guarda. “Advogados, assistentes sociais, médicos, psiquiatras, dentre outros profissionais, podem ajudar-nos a desenvolver o trabalho da mediação e de informação sobre a guarda”, ressalta.

Para a psicóloga Jacqueline Pitchon, a participação dos pais no desenvolvimento dos filhos é creditado a dois fatores: devido à divulgação da psicologia infantil (que possibilitou a mudança na relação entre eles), e à busca da mulher por seu desenvolvimento financeiro. Sendo assim, os papéis, adotados anteriormente tiveram de ser revistos.

Voluntariado
– Desde dezembro de 2000, a advogada Maria Angela dos Santos Rocha é voluntária da associação. Convidada por Rodrigo Dias, a advogada ressalta que um dos grandes benefícios da associação é estabelecer o equilíbrio sentimental entre pais e filhos.

Apesar da procura ser predominantemente de homens, que reivindicam a visita, a associação também oferece serviços às mães, destaca Maria Angela Rocha. “Os pais agora estão querendo tornar-se mais presentes na vida dos filhos.”

Ela aponta que as pendências judiciais têm base em vingança. “É uma falta de conhecimento, da mãe, principalmente, quando se separa, que considera a situação como fosse uma briga constante. Então, ela se utiliza disso como impedimento para as visitas do pai ao filho. Caso ocorra a discordância da mãe neste sentido, o caso é levado ao jurídico, que vai ordenar o horário para visitas. Neste momento, em que a associação se afasta, é feito um encaminhamento a um advogado que, queira atuar na associação voluntariamente. Agora, se o pai quiser aumentar o tempo de permanência com o filho, e não conseguir por meio de um acordo, ele pode mostrar ao juiz os benefícios de um maior tempo de convivência com o filho”, finaliza.

Pais para sempre
Rua Leopoldina, 312 – casa 7 – Santo Antônio
Tel.: (31) 9996-9599
Site: www.fotojornalismo.fot.br/conviver.html

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